O Leite derramado de uma vida? É por ai que Chico Buarque derrama em prosa em seu novo livro. A evolução de um escritor é notável neste livro. Chico, que em minha opinião é o maior compositor que temos, avança passo a passo neste delicioso livro. Chico derrama a memória branca de um velho já com seus 100 anos de vida, deleitada por esse mundo. Branca e não menos branda vida aproveitada. Memória azucrinada por lembranças hora do passado, hora recente. Senti várias influências neste livro, Machado é o mais claro, o ritmo da prosa, a dúvida de uma traição por sua mulher. Mas também me fez recordar o personagem de Cem Anos de Solidão, o Aureliano, que saia com todas as mulheres, tinha o corpo todo tatuado. Porém, apesar de todas estas influências que percebi achei o personagem muito peculiar, singular. Chico abraça o mundo da literatura como o da poesia e da música. É um grande mestre e um grande ser. Não é o melhor livro dele. Budapeste é uma obra-prima difícil de ser batida. Mas se derramar junto às memórias, e ao sarcasmo deste velho Assumpção é ótimo. Leitura recomendada.