terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Saudade

Hoje me deu saudade da tarde
De sentar em frente ao mar e de estar ao seu lado
De saber que mesmo na hostilidade
Eu tinha todo sentimento encubado e nutrido
De sentir a sombra do seu cabelo ondulando com o tempo
De saber que se tivesse um anjo perto de mim, esse estaria ao meu lado.
Hoje me deu saudade da brisa leve que tocava a tez dos nossos rostos
A mesma brisa.
O mesmo sol que iluminava meu pensamento
Levava o seu para longe
Mas o meu estava perto
Hoje me deu saudade da vontade de lhe abraçar
De pegar na sua mão e de beijá-la
De me adaptar ao tempo para poder respirar
Deu-me vontade de fazer as suas vontades
De fazer um poema naquele instante.
Hoje eu estou com saudade do seu abraço em paz.
Hoje me deu saudade
E ai eu pisquei para o mundo
E vi que
Saudade é só para lembrar.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Eu tento fazer um poema em um canto
Onde canto um canto
Em pranto
Sozinho e tonto
Sinto-o esvair em desencontro
No entanto
Em sutil desamor toco meu canto
Em prol do meu encanto
No desalento e tanto
Planto o meu canto
Silencioso no meu canto
Canto o meu pranto.
"Canto que é de canto que eu vou chegar
canto e toco um tanto que é pra te encantar
Canto para mim qualquer coisa assim..."

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sabe você o que faz com seus olhos?
Sabe você a vontade que dá de ficar olhando-os?
Sabe o que faz de mim?
Eles roubam a poesia presa na minha boca
Deixam-me mudo
Estático
Fazem-me pensar
Sem querer poetizar
Com leveza, com exatidão.
Se eu os tivesse em mãos
Eu esculpiria outros versos
Viajaria com eles
Guardaria só para falar ao seu ouvido
Que eu os fiz
Só para te ver sorrir.


Para os mesmos olhos de ressaca.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A cegueira que me deixou mudo

Ensaio sobre a cegueira é um dos livros mais intrigantes que eu li. Foi o primeiro livro que li do Saramago, quando tinha 19 anos. Naquela época foi surpreendente e ao mesmo tempo apaixonante descobrir a literatura deste português. O Saramago sempre tem um pé atrás em deixar que filmes ou peças de teatro sejam baseados em suas estórias. Quando eu soube que o Fernando Meirelles estava por trás do projeto de levar às telas o livro, pensei comigo mesmo que estaria em boas mãos. E não me enganei. O filme me deixou com a mesma sensação de quando li a estória, no livro temos o senso de que iremos ficar cegos ao terminá-lo. Meirelles dá um show de direção, a fotografia do filme é belíssima. A degradação do ser humano é passada de forma tão especial no filme que cria uma surpresa e ao mesmo tempo uma angústia de saber que a qualquer momento pode acontecer isso, não necessariamente todos ficarem cegos, mas um caso parecido, de pessoas com problemas ficarem trancafiadas em quarentena. Juliane Moore dá um show, a personagem dela, a mulher do médico, é a virtude em pessoa. O perdão, o entendimento do extremo que o humano pode chegar a situações que não está adaptado. Os atores sem maquiagem dão mais vivacidade ao filme. Agora entendo a emoção do Saramago quando assistiu ao filme ao lado do diretor e este lhe beijou a face pela emoção e agradecimento do autor. Sinto-me orgulhoso por este filme ter sido feito por um brasileiro. Um filme marcante, reflexivo, que deixa qualquer um estático o tempo todo, pela beleza, pelo desespero dos personagens, pela beleza e tristeza da cegueira branca. Podemos ver o quanto uma sociedade dividida não é capaz de se unir, o tamanho é a mediocridade de alguns querendo ganhar à custa dos outros. Mas há momentos felizes, cenas marcantes em que um senhor ouve um radinho de pilha e todos estão juntos com ele; o cachorro; a chuva. É Saramago, Meirelles, Moore, a bela Alice Braga nos melhores momentos do cinema.