quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Como na saudade. Ele tinha em seu peito todas as desavenças com o mundo e lembranças também. Todo o chão se abriu a hora que ele pisou para ver o dia. Saiu do seu cubículo e viu que lá fora não havia escuridão. Tinha-se esquecido de como era a luz do sol e de como era a cor do céu. Não sabia verificar mais se o amor tinha a cor vermelha. Não sabia mais observar as pessoas como meros figurantes na sua passagem pela vida. Não. Tinha que aparecer algo em seu mundo. Um horizonte distante talvez para buscar. Devia caminhar e ver que todas as faces da vida lá fora, tinham vários estereótipos. Sorrir. Preocupação. Medo. Sono. Vigilância. Afobação. Estresse. Dúvida. Adivinhação. Romance. Paixão. Tristeza. Vida. Tinha em cada rosto de cada pessoa que passava ao seu lado um misto de cada uma dessas exteriorizações. Calou-se ao ver uma criança vendendo um doce, uma bala no semáforo. Como pode um ser que ainda não sabe o que é viver, já estar com um peso nas costas daqueles que tem que aprender a viver. A disritmia do tempo faz com que todos não enxerguem que o mundo está virando ao contrário. Será possível que poucas pessoas perceberem isso? Queria ele poder ajudar toda a criança que estava ali, à sua frente. Tinha a certeza de que se todos os adultos fossem palhaços de circo, o trabalho daquelas crianças seriam mais dignos. Talvez elas fizessem o que estavam fazendo pra simplesmente fazê-las rirem. Pretendia ter saído de seu quarto para pelo menos ver como viviam os seres que não via a tempo. Não sabia se importar com o que acontecia lá fora quando estava lá dentro. Pela sua caminhada para aquelas horas à qual não fazia a tempo, ficou desanimado. Perdido com o que via a cada passo. A cada hora via que nas vielas de seu bairro as pessoas ignoravam umas as outras. Teria como fazer algo por elas? Sabia que todo o sol, todo o céu azul que havia lá fora, era despercebido por todos. Todos não estavam preocupados com coisas “miúdas” ao redor. Tinha simplesmente a inibição de fazer com que ninguém o percebesse. Ele, sim, estava ali para perceber. Cansou. Voltou ao se cubículo. Tinha que sozinho fazer a festa com ele mesmo. Aguou a planta ao lado da sua cama. E percebeu. Vivia. Só.

5 comentários:

Anônimo disse...

Essa solidao de estar na multidao... Melhor encarar e fazer-se dela por toda parte. E o que realemente merece valor e reconhecimento num eterno anonimato:

Lindo texto, talvez o q mais me emocionou.
Quero uma planta pra aguar assim.

beijos, Raphinha.

Anônimo disse...

Viver a solidão e enxergar o que poucos vêem é um ponto que deve ser o final....ou o começo.

Amei a descrição!!!!
Ah, amei tb o novo visual do blog!

beijooo!!!!Gisele

Flávia disse...

A disritmia do tempo faz com que todos não enxerguem que o mundo está virando ao contrário.

Essa frase é o espelho dos dias de hoje.

Solidão. A presença da ausência nos impondo sua companhia.

Beijo!

Si disse...

De todos os seus ditos, esse foi o que mais me emocionou.
“Todo o chão se abriu a hora que ele pisou para ver o dia...” É assim que me sinto ao ver TV, parar num sinal... Mas é muito bom sabre que nessa “escuridão” ainda existem pessoas sensíveis e compassivas.

Vida. Precisamos vê-la em todos.

Beijos, moço bonito.

Barba Ruiva disse...

O mundo anda tão complicado que às vezes é melhor se esconder do que olhar nos olhos dele e tentar entender.Às vezes me perco tentando entender.
Mas cada um entende o que quer e da maneira que acha melhor.
Ótimo texto,bem direto.
Abraço