terça-feira, 1 de abril de 2008

Era perceptível o cheiro que ela deixou nas roupas e nos braços. Depois daqueles abraços, onde aços seriam pouco para medir as forças que haviam no quase sem espaço entre eles. Podia sentir e pegar o perfume como se colhesse as frutas de uma árvore ou as flores de um campo. Não queria exprimir o arrependimento de despedida. O que acontece ou aconteceu, bastou-se. Havia um batuque no peito no findar-se do olhar. Os dois estranhavam-se a cada passo que davam para trás. Relembraram os passos avante que anos atrás os fizeram cruzar estes mesmos olhares. Não queriam entender, mas buscavam um desacordo com o que estava por fim. Havia expressão, demasiadamente, de arrependimento. Esquecimento. Por um triz ele queria a vida dela novamente. Queria acordar ao seu lado todos os dias e passar a mão nos seus cabelos e com um beijo dar-lhe apenas: “bom dia”. Fazer do esquecimento o presente para não reparar nas desestabilidades o dia faria em fervor, distanciando-se da sua memória aqueles cabelos e aquele cheiro. Não queria apenas o olhar dela, queria o seu silêncio contemplativo.Mas desejava, também o entrelaçamento de suas pernas no momento em que a noção de hora os fazia esquecer desse mundo, rompiam com este. Faziam-se de amores, amantes. Abundava-se a maneira de fazê-la feliz. Fim era inexistente. Mas ela sempre lhe dizia que o sempre pode acabar num triz, como pode começar. Começou e após longo tempo findou-se. Ela quis se libertar. Não queria os mesmo beijos todos os dias e nem observá-lo a contemplá-la. Sentia-se como se um sinfonia iniciasse uma nova etapa no que se chamava vida. Ele por sua vez, afogou-se em mágoas. Lágrimas rolavam na triste expressão do seu rosto. Queria viver, mas a angústia o impedia. E como por um novo triz, noutro dia, sentado no bar da esquina de seu novo apartamento, lá estava um sorriso. Um novo olhar que se limitava a passar somente na direção dos dele. Pedia-se aquele momento uma paralisação e não impunha nenhuma resposta negativa ao seu coração. Tomou coragem, rompia-se novamente com o mundo, e apenas uma direção o fazia seguir. Das lágrimas tristes do outro dia, havia agora gotas de felicidade caindo sob seus olhos. Percebeu o mesmo cheiro, e mesma maciez nos cabelos e os mesmo olhos contemplativos e observadores de sempre. A volta nunca é um caminho distante e o início pode nunca ser tão novo como parece.

5 comentários:

Flávia disse...

PQP, Raphinha.

Desculpe o quase palavrão... mas cara, esse texto ficou um abuso de lindo.

PQP, Raphinha...


Beijo!!

Anônimo disse...

Lindo, Rapha, teu texto.
"Para sempre é sempre por um triz" - lembrou-me Buarque.
Fez-me recordar algo de mim, mas não sei exatamente o q...

beijos, cabeça.

Si disse...

Acabei de ver um filme do Woody Allen (Noivo neurótico, noiva nervosa) e estava refletindo sobre relacionamentos e meu atual ponto de vista. Aí, li seu post. Foi uma complementação fora do normal (apesar de estar perdida agora). Hehehe.

O bom é que a vida segue, cheia de novas surpresas.

Beijos, moço.

Atriz disse...

Que linda história, Raphael!!!

Uma história triste e bela...com musicalidade e esperas...

bj! td de bom pra vc!

Gisele

Anônimo disse...

Muito belo este texto!
O ritmo das tuas palavras me fez abandonar minha perniciosa leitura dinâmica para dar lugar a um saborear lento e trabalhoso.
Compensou.

Abraço, parabéns pelo blog!

(estás linkado, no meu blog)