quinta-feira, 17 de julho de 2008

Álias

Esta saudade instalada no meu peito não me revigora, só aumenta a vontade de ver aqueles olhinhos dos quais anos e anos eu os vi me olhar e tomar conta. Recordo-me de belas e engraçadas histórias e sinto ainda o cheiro de coisas que fazias para mim. Vem encalacrada no meu nariz a memória do bolinho de São João que me ensinaste a fazer quando criança, como se fosse hoje o odor da massa daquele bolinho frito permeia pelo ar do meu consciente. Sinto o gosto do açúcar misturado à canela no meu pensamento. Aguça-me também o paladar do leite com erva-doce queimada com açúcar que me fazia quando estava com gripe e com dor de garganta. Vejo-me assistindo televisão até altas horas da noite e em certo instante sinto-me levado pelos braços de um anjo até a cama. Por outras vejo-me deitado na cama bem arrumada aos pés da sua cama e observo-a rezando, quando podias ajoelhar-te, ou quando sentada mesmo orava a Deus e nas minhas recordações pedia a esse mesmo Deus a benção a todos nós. Causava intrigas entre os filhos que àquela época não me interessavam e hoje muito menos ainda, apesar de que hoje acho engraçado, dava mais movimento e união à vida da família. Ah! Que saudade e que vontade de receber um abraço, sei que todos os abraços que me deu foram sinceros. Que vontade de passar a mão em forma de carinho nos cabelos brancos como a neve que você tinha. E às vezes em que estourávamos pipoca para assistir aos programas do Silvio Santos aos domingos? Outra muitas que me pedia para ir à padaria comprar um doce escondido para se deleitar no que te era proibido? É vozinha, foram oitenta e nove anos que fizeste parte da nossa vida, mas hoje já passa dos noventa o tempo descontínuo que está na nossa memória. Serão incontáveis as vezes que lembrarei daquele último abraço, senti vontade de chorar naquela hora, mas fui forte, achava que não era a última vez. E hoje deixo gravado em simples palavras não apenas para dizer felicidades, onde quer que estejas, mas sim, para, com os olhos marejando as lágrimas que iniciam a sua trajetória no meu rosto, escrever simplesmente, que tens o meu amor e a minhas saudades eternas.

5 comentários:

Anônimo disse...

linda memória literária, meu amigo!


Jura

Anônimo disse...

Lindo texto!

A minha maior saudade é daquilo que podia ter sido. Das coisas que foram, eu sei que lhes doei intensidade.

Beijo, Phaelzo.

Si disse...

Linda homenagem, Rapha.

Anônimo disse...

fala Pousa, gostei do texto, memórias e lembranças são o motor da vida e seu sentido!
gostei tb das poesias, muito lirismo!
ahhh, que vc sempre comente os filmes, novos horizontes pra quem pensa em assisti-los...

abração, e estou esperando o texto sobre ideologia e políca...

Anônimo disse...

Ohhh meu amigo que texto lindo, dá até um nó na garganta!
Lindo demais!

Beijos