quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A cegueira que me deixou mudo

Ensaio sobre a cegueira é um dos livros mais intrigantes que eu li. Foi o primeiro livro que li do Saramago, quando tinha 19 anos. Naquela época foi surpreendente e ao mesmo tempo apaixonante descobrir a literatura deste português. O Saramago sempre tem um pé atrás em deixar que filmes ou peças de teatro sejam baseados em suas estórias. Quando eu soube que o Fernando Meirelles estava por trás do projeto de levar às telas o livro, pensei comigo mesmo que estaria em boas mãos. E não me enganei. O filme me deixou com a mesma sensação de quando li a estória, no livro temos o senso de que iremos ficar cegos ao terminá-lo. Meirelles dá um show de direção, a fotografia do filme é belíssima. A degradação do ser humano é passada de forma tão especial no filme que cria uma surpresa e ao mesmo tempo uma angústia de saber que a qualquer momento pode acontecer isso, não necessariamente todos ficarem cegos, mas um caso parecido, de pessoas com problemas ficarem trancafiadas em quarentena. Juliane Moore dá um show, a personagem dela, a mulher do médico, é a virtude em pessoa. O perdão, o entendimento do extremo que o humano pode chegar a situações que não está adaptado. Os atores sem maquiagem dão mais vivacidade ao filme. Agora entendo a emoção do Saramago quando assistiu ao filme ao lado do diretor e este lhe beijou a face pela emoção e agradecimento do autor. Sinto-me orgulhoso por este filme ter sido feito por um brasileiro. Um filme marcante, reflexivo, que deixa qualquer um estático o tempo todo, pela beleza, pelo desespero dos personagens, pela beleza e tristeza da cegueira branca. Podemos ver o quanto uma sociedade dividida não é capaz de se unir, o tamanho é a mediocridade de alguns querendo ganhar à custa dos outros. Mas há momentos felizes, cenas marcantes em que um senhor ouve um radinho de pilha e todos estão juntos com ele; o cachorro; a chuva. É Saramago, Meirelles, Moore, a bela Alice Braga nos melhores momentos do cinema.

2 comentários:

JURA disse...

belísima resenha
ainda não vi o filme, mas o livro é marcante como tudo que Saramago escreve

Guga Pitanga disse...

O livro é um dos meus favoritos, e o filme é incrível!